sobre o aborto
engraçado...
pensei numa coisa e ela aconteceu.
agora tenho medo de pensar porque nem sempre penso em coisas boas.
hoje ainda acordei sentindo o estranhamento que dormiu comigo ontem.
será que se eu sentir também acontece?
tomara que não.
paula sampaio.
"...trabalhe numa coisa que você ame porque não se pode esperar cinco dias para aproveitar apenas os dois do final de semana."
mário testino, fotógrafo, claro!
flávio louzas, um moço que tem poesia. e que é lindo.
"estarei sempre aqui para transformar seus dias londrinos em lindos céus de Monet".
e eu quis que Monet estivesse vivo pra pintar a grandeza do que senti.
frase de Tazio Secchiaroli e foto de Jack Delano
não era nada disso, ele só tinha esquecido o caminho da minha casa.
se perdeu na marginal pinheiros, sabe?
e eu aqui, me perdendo em mil devaneios ....
ufa!
o cavalo dele machucou a pata e teve que ficar de repouso. o caminho é longo pra vir a pé e não tem graça chegar sem o bichano branco.
eu só queria saber se o mundo seria mais fácil se a gente soubesse ser mais verdadeiro.
só queria poder perder o pudor da palavra e ganhar a clareza do sentimento puro e direto.
por que a gente não vive o tanto que devaneia?
tem que mudar.
eu vou.
"Que nada, menina! Eu gosto é de viver "as acuntição" mesmo. É muito mais fácil assim, olha pra tu ver: toda vez que eu tô indo prum lado da cidade, eu recebo um telefonema que me leva pra outro. Eu tenho muitos clientes na madrugada, sabe? A Dona Carmem, por exemplo, me lilga toda hora pra levar os travestis que ela comanda pra casa depois do serviço. Aí eu levo, porque é gente também e paga sempre em dia. Mas o mais legal é que, vez ou outra, eu acabo virando a esquerda e beirando manhã nos bares com eles. É a acuntição, tá vendo? Essa gente não sabe viver não, ninguém ainda descobriu que a vida é feita de acuntição. As coisas querem acontecer e tu tem que deixar, ora bolas! Eu que não sou bobo já descobri, quem não tem acuntição, vive bem não, viu menina?"
As palavras andam sumidas.
Talvez escondidas.
Talvez oprimidas.
Talvez dormindo.
Talvez mordidas.
Talvez com frio.
Talvez descansando.
Talvez pensativas.
Talvez sofrendo.
Talvez cantando.
Talvez fugindo.
Talvez perdidas.
Talvez doídas.
Talvez brincando.
Talvez cuspidas.
Talvez meio azedas.
Talvez mal quistas.
Talvez engasgadas.
Talvez inventadas.
Ou nada disso.
Palavras também podem ser mudas, é só fechar a boca e ouvir.
Acho que ele não entendeu nada, também pudera....
Como explicar arrependimento?
Melhor é previnir.
Deveria existir vacina contra vacilos.
Analgésico, pra curar ressaca moral.
Ai ai... um dia eu ainda faço uma plástica pra tirar de dentro do peito o tal do impulso!
Será que dá pra dividir no cartão?
Gentrificação: Processo de restauração e/ou melhoria de propriedade urbana deteriorada. Realizada pela classe média ou emergente. Geralmente resultando na remoção de população de baixa renda.
Resolve?Em meio ao ronco estonteante dos carros e das vozes frenéticas de milhares de ambulantes que compõe a música cotidiana daquela rua, ela se prendia no silêncio de si mesma. Parecia que todos os sentidos tinham se escondido atrás dessa angústia que fazia ela perder toda a curiosidade pelo mundo do lado de fora. Não via as cores do dia, não cheirava o perfume das pessoas, não sentia o frio que ventava no rosto. Só o silêncio pairava.
"O amor é igual capim. A gente planta e ele cresce. Depois, vem uma vaca e acaba com tudo."
E a rua, que era cheia de gente, não tem ninguém.
Nem o baleiro da esquina teve coragem de aparecer.
A segunda-feira preguiçosa deu lugar a um sentimento estranho de medo.
E eu saí mais cedo do trabalho, assustada com a idéia de ser achada por uma bala perdida.
Mais do que isso, triste, por não conseguir entender o que fizeram com o respeito entre os homens, onde esconderam a liberdade.
Então, eu desligo a televisão, pra não ter que ver e ouvir mais nada disso.
De que adianta? Se amanhã eu não posso trabalhar, se o caos ainda toma por completo a minha rotina...se eu ainda durmo embalada pela sinfonia agoniante das sirenes.
Tem dia que o mundo parece tão cruel com a gente...
Vontade de silêncio.
Absoluto.
Mas o telefone toca.
E a gente se rende ao barulho lá fora.
Amanhã tudo volta ao normal.
O mundo e eu somos muito previsíveis.
-"Bom dia! Você dormiu comigo hoje, seu mal educado?"
-"Não! Eu não tive essa oportunidade mas, bem que seria um grande prazer!"
O Tiago é assim, a gente nunca sabe onde ele está.
Eu escolho a cabeça, não pra ser martelada pela cruz ou furada pela espada, mas pra tentar calcular a altura da janela pulada, dividir pelas costelas quebradas na queda, subtrair pelo medo do novo e somar tudo à uma boa dose de vontade de aprender. Talvez assim, a lógica da minha equação seja positiva o suficiente pra me convencer de que a ordem dos fatores não altera o produto.
Depois, porque é preciso um bocado de esperteza pra poder dicernir o que realmente é rentável em uma escolha dessas. Pensar se vale mesmo a pena se arriscar em algo que você não tem a mínima idéia de certeza ou final feliz. Daí o perigo que remete ao pensamento anterior, o egoísmo, o egocentrismo.
A mãe: "Tá vendo aqueles meninos ali em baixo daquela ponte? Eles não tem onde morar e muito menos o que comer. Sabe aquele arroz e feijão que você desperdiça todo dia no almoço? Pois é... eles não têm nem isso".
Será que eu nunca vou parar de escrever coisas tão sem sentido?
Tô de mal a pior....
E morro de rir!
Eu gosto de brincos e coisinhas de enfeitar o cabelo...
Também gosto de saias que rodam e deixam o vento entrar rasteiro.
Mas ainda prefiro aquele nariz vermelho de palhaço, que ganhei quando me despia de tudo aquilo que eu gosto pra me enfeitar.
- Coca-Cola ou suco de laranja?
- Laranja, sem gás, por favor.
"Pra guardar um segredo bem guardado, você faz um buraco no tronco de uma árvore no alto da montanha. Sussure suas palavras lá dentro. Depois você tampa o buraco com barro, assim, ninguém nunca vai saber o seu segredo."
E a cada manifestação doída desse medo, mais e mais ele ganhava força porque, até então, eu acreditava na sua ausência absoluta. Mania de mulher maravilha... Foi como se algo tivesse me obrigado a revirar aquelas gavetas submersas no esquecimento e nelas econtrar algo muito menos leve que um simples devaneio. E eu reencontrei o medo. Do mundo lá fora, do meu aqui dentro, parecendo criança assustada com os monstros do armário, agora escondidos nas minhas gavetas.
Mas, o que mais me incomodou, na verdade, foi perceber que nunca estive totalmente imune à esse sentimento, só não mais me permitia saber da sua existência. Queria sempre escondê-lo debaixo de uma carta de amor, de uma revista velha, de um fotografia bonita. Mas ocultar não significa eliminar, e eu não entendia isso, até ontem.
E eu chorei lágrimas de criança medrosa, eu esmaguei a minha coragem, eu quebrei todas as minhas certezas, eu amarrotei as minhas esperanças. Catei meus pedaços no chão do quarto e tentei colá-los com palavras bonitas despejadas num papel, e que de nada adiantaram. Elas não existiam, nem mesmo pra amolecer meu soco, muito menos pra intimidar meu medo.
Era uma sensação estranha de pisar em chão de espinhos e ao mesmo tempo escorregar em sabão. E eu escolhi o sabão, sem nem mesmo saber se me foi dado o direito da escolha. Eu me entreguei ao sono que veio chegando pela ponta dos pés e tomando por inteiro meu corpo cansado de um dia medroso. Os olhos caíram pesados, a boca fechou seca, a cabeça deitou-se silenciosa e o peito aquietou-se ainda ofegante.
Ontem eu senti medo. Me despi da fantasia azul e vermelha da heroína que um dia prometi a mim mesma sempre ser. E hoje, quando eu acordei, ela estava pendurada na cadeira ao lado da minha cama, apenas uma fantasia. Eu abri a porta do armário e não encontrei os monstros, lavei o rosto cheio da noite passada, sentei-me na frente do espelho e me enxerguei diferente. Então abri a porta do dia e fechei aquela gaveta. Mas, antes de fechá-la, tirei os entulhos, passei pano limpo, reorganizei as fotos e ao lado das cartas de amor e das revistas deixei o medo. Agora eu já sabia onde ele estava, jamais doeria tanto reencontrá-lo numa noite escura de segunda-feira.