Wednesday, March 29, 2006

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Será que eu nunca vou parar de escrever coisas tão sem sentido?
Tô de mal a pior....
E morro de rir!

Sede.

E no final da noite, quando a hora de ir embora já havia se perdido na pista de dança, ela ainda queria mais.
Mais o que? Mais de quem? Mais pra que?
Ela nunca sabe as respostas, mas naquela noite foi fácil encontrá-las.
Ele veio... pra dar mais o que ela tinha de menos e queria tanto.

Monday, March 27, 2006

Eu gosto de brincos e coisinhas de enfeitar o cabelo...
Também gosto de saias que rodam e deixam o vento entrar rasteiro.
Mas ainda prefiro aquele nariz vermelho de palhaço, que ganhei quando me despia de tudo aquilo que eu gosto pra me enfeitar.

Friday, March 24, 2006

Eu e ele.

"Ô tia!
Me dá um real aí pra comprá um negócio de comê ali?
Tem dois dia que eu não como nada."
(com uma garrafa cheia de cola escondida debaixo da blusa)
Chovia muito, as pessoas se espremiam debaixo do único ponto de ônibus naquela rua. Ele, bermuda rasgada na bunda, blusa suja e apenas um pé de chinelo. 23 anos, mais ou menos. Alto, cabelo raspado, sem dentes. Expressão forte. Estranho. Vagava sem medo de ser atingido pela chuva. Na verdade, era incrivelente capaz de desviar dos pingos, maladragem da vida na rua.
E, em meio àquela confusão de gente, ônibus, água, sombrinhas e cansaço de final do dia, ele parava com a mão estendida e dizia o texto que soava inutilmente aos ouvidos alheios. Uns se afastavam em um silêncio trêmulo, outros por medo de uma reação mais brusca diante do "Não!" sacavam moedinhas dos bolsos.
Eu seguia seus passos com os olhos esperando a minha vez de ouvir o texto incansável e molhado. Enquanto isso, pensava em qual seria a minha reação. "Não! Não acho bacana dar dinheiro, talvez possa comprar uma prato de comida na lanchonete ali da frente e alimentar o seu texto faminto pelas próximas horas." Mas ele não vinha....
Me olhava com uma mistura estranha de pudor, medo, admiração, não sabia como olhar, na verdade. Desviava de mim, mais do que dos pingos de chuva amarrotando minhas possibilidades de ir até ele. Não, ele não vinha cuspir seu texto decorado em mim, mas por que não? Eu queria sim ajudar com mais do que simples e simbólicas moedinhas. Não tinha medo, era como se quisesse muito me aproximar dele. E ele só se esvaía de mim.
Foi então que, depois de mais de dez minutos de observação, de três ou quatro ônibus perdidos, eu consegui ter uma idéia do que se passava. Vergonha. E eu senti, mais uma vez, um soco no estômago. Os olhos que assustavam pela amargura agora eu via com uma inocência nunca imaginada. Percebi que a minha presença ali o incomodava mais e mais a cada segundo.
Atrás da bermuda rasgada, da cara de mau, da garrafa de cola, tinha um homem como todo e qualquer outro. Com desejos e sentimentos. Tinha mais, tinha fome e tinha respeito também. Eu me incomodei por incomodar. Resolvi pegar o primeiro ônibus e deixá-lo a vontade, ainda que com fome.
Foi uma viagem difícil de volta pra casa. Presa na surpresa de me deparar com um olhar tão cheio de pudor onde nunca pensei encontrar. Não sei, foi estranho pra mim não saber que nem sempre as pessoas te vêem como você pensa que é visto. E mais, perceber que meus olhos também precisam se livrar do vício de ver o prédio inteiro, quando o que relamente importa é só uma janela.

Tuesday, March 21, 2006

...

- Coca-Cola ou suco de laranja?
- Laranja, sem gás, por favor.


E o garçom olhou para ela escondendo o susto dentro da gravata borboleta e pensou: "Tudo bem, doses diárias de nonsense não fazem mal à ninguém."
Em seguida respondeu:
- Claro, suco de laranja sem gás. Desculpe senhora, mas gostaria de laranjas quadradas ou retangulares para seu suco?

Monday, March 20, 2006

Pela janela do ônibus eu vi:

"Crianças circulam livremente. A situação está novamente sob seu domínio."
Frase escrita numa das partes de um viaduto paulistano que assiste, diariamente, crianças cheirando cola e se deixando levar.

"Seu domínio". Meu ou da situação?

Money for nothing.


"Dinheiro é um pedaço de papel. O céu é um. O céu na foto é um pedaço de papel. Pega fogo fácil. Depois de queimar o dinheiro vai para o céu como fumaça. Também é fácil rasgar como cartas e fotografias. Aí não se usa mais. Pode até remendar com durex, mas não é todo mundo que aceita. O que não se quer melhor não comprar. O que não se quer mais melhor jogar fora que guardar em casa. Dinheiro tem valor quando se gasta. Um pedaço de papel é um pedaço de papel. Dinheiro não se leva para o céu."
Arnaldo Antunes.

No chão, última página de uma revista velha e perdida no Banco do Brasil da Avenida Paulista. Bem ao lado do caixa eletrônico onde acabava de pagar contas de luz e telefone. Exatamente na hora em que eu franzia a testa, tipicamente reclamando da falta de dinheiro.

Sunday, March 19, 2006

Sai do meu pé chulé!

Ela sempre está aqui.
Presente e onipotente. Fala baixinho, mas faz um barulho de ensurdecer.
Quando eu quero verde, ela grita pelo azul. É sempre assim.

Por vezes eu tento ignorar, fico sem paciência com ela e tampo os ouvidos. Bobagem a minha, não se cala.
Então eu ouço e me importo com ela. Pelo menos finjo, por segundos. Tá bom! Mais, por horas.
Na maioria das vezes chega sem o maior nexo. Mas vem e pisa com pé sujo nas minhas certezas que, nessa hora, já não o são mais. Tem hora que ela estraga tudo. Mas eu sempre permito sua presença. Dividimos a culpa, sou justa com ela.
Parece que quer ser mais e mais forte, deve achar que eu sou boba e vou me render às suas baboseiras. Boba é tu tatu!

Já tentei colocar num saco fechado e soltar lá no centro velho de São Paulo, pra ver se esquece o caminho de casa e some de vez. Também pensei em bater no liquidificador pra ficar mais fácil de empurrar pelo ralo. Nessas horas fico assustada com a sua força.

Quando eu sou reta, ela é curva. E eu caio da corda que custei tanto pra conseguir me equilibrar.
E eu penso,penso, penso. E ela se alimenta de bagunçar meus pensamentos. Ri da minha cara, sem dó.
Até quando eu durmo ela não se aquieta. Mas, quando é assim, é menos voraz, porque se disfarça atrás dos sonhos.
E, depois de me render à Orfeu, ela toma meu café sem nem pedir. Tira o disfarce e volta com cara de quem não me vê há tempos.
Hipócrita! Pouco importa a minha opinião. Ela se acha muito auto-suficiente, apesar de saber que sem mim não tem razão de ser.

Na verdade, a nossa relação é de amor e ódio. Um pouco de um e de outro.Por vezes, mais de um que o outro.
Agora são 14.46 de um domingo pé de cachimbo. Eu aqui, cuspindo meu desabafo e ela querendo apagar tudo.
Acho melhor sentar na varanda, fumar um cigarro e me distrair com a empolgação das pessoas no churrasco do vizinho.
Eu vou... e ela está aqui (como me incomoda essa voz ao fundo!), me dizendo pieguices sobre o mal que o cigarro faz.
Um dia eu ainda consigo me livrar dela, ah consigo! Quem sabe quando eu olhar pra dentro e aceitar que essa voz no meu ouvido, nada mais é do que a minha mania de nunca saber ao certo onde, como, quando e por quê.