Sunday, March 19, 2006

Sai do meu pé chulé!

Ela sempre está aqui.
Presente e onipotente. Fala baixinho, mas faz um barulho de ensurdecer.
Quando eu quero verde, ela grita pelo azul. É sempre assim.

Por vezes eu tento ignorar, fico sem paciência com ela e tampo os ouvidos. Bobagem a minha, não se cala.
Então eu ouço e me importo com ela. Pelo menos finjo, por segundos. Tá bom! Mais, por horas.
Na maioria das vezes chega sem o maior nexo. Mas vem e pisa com pé sujo nas minhas certezas que, nessa hora, já não o são mais. Tem hora que ela estraga tudo. Mas eu sempre permito sua presença. Dividimos a culpa, sou justa com ela.
Parece que quer ser mais e mais forte, deve achar que eu sou boba e vou me render às suas baboseiras. Boba é tu tatu!

Já tentei colocar num saco fechado e soltar lá no centro velho de São Paulo, pra ver se esquece o caminho de casa e some de vez. Também pensei em bater no liquidificador pra ficar mais fácil de empurrar pelo ralo. Nessas horas fico assustada com a sua força.

Quando eu sou reta, ela é curva. E eu caio da corda que custei tanto pra conseguir me equilibrar.
E eu penso,penso, penso. E ela se alimenta de bagunçar meus pensamentos. Ri da minha cara, sem dó.
Até quando eu durmo ela não se aquieta. Mas, quando é assim, é menos voraz, porque se disfarça atrás dos sonhos.
E, depois de me render à Orfeu, ela toma meu café sem nem pedir. Tira o disfarce e volta com cara de quem não me vê há tempos.
Hipócrita! Pouco importa a minha opinião. Ela se acha muito auto-suficiente, apesar de saber que sem mim não tem razão de ser.

Na verdade, a nossa relação é de amor e ódio. Um pouco de um e de outro.Por vezes, mais de um que o outro.
Agora são 14.46 de um domingo pé de cachimbo. Eu aqui, cuspindo meu desabafo e ela querendo apagar tudo.
Acho melhor sentar na varanda, fumar um cigarro e me distrair com a empolgação das pessoas no churrasco do vizinho.
Eu vou... e ela está aqui (como me incomoda essa voz ao fundo!), me dizendo pieguices sobre o mal que o cigarro faz.
Um dia eu ainda consigo me livrar dela, ah consigo! Quem sabe quando eu olhar pra dentro e aceitar que essa voz no meu ouvido, nada mais é do que a minha mania de nunca saber ao certo onde, como, quando e por quê.

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