Thursday, May 31, 2007


Não tem meio termo.
Termo e meio a gente ta em discussão
E não tem trégua nem pausa pra um refresco
Ta maluco?
Ta?
Então ta.
Agora a poesia só vai dizer e nada de rima nem de aderir a gênero literário ou de vanguarda plástica ou resgate de música trovadoresca de não sei que canto do planeta.
Agora é tudo um troço só.
Só sucata lingüística que a gente monta e remonta que nem um quebra-cabeça
Quebra-cabeça que não tem resposta não.
Refazendo poema
Refazendo
Encontrando poesia nos es nos ex nos is nozes nocivos nos noivos nos ex noivos nos noves fora nonos nos nãos nos nuncas nos nos
Encontrando poesia sila ba após si laba após si la ba.
Mesmo que a poesia não esteja escrita assim assim com palavrinhas
Preto no branco
Escreveu não leu
Não ta alfabetizado
E estamo conversado?
Não estamos realmente realmados e armados com alguma poesia pra conseguir ver a poesia que passa a pé por aí. Que grita nos olhos ardidos de olhar daquela menina. Que acena das mãos velhas das velhas que respeitamos. Que chora na boca faminta dos moleques que ainda não tiveram força nem um tempinho entre um choro e outro pra sonhar em ser ronaldinho.
Mesmo que a poesia não esteja escrita assim assim, com palavrinhas e tudo
Ta lá.
E lá
É lindo.

flávio louzas, um moço que tem poesia. e que é lindo.

Wednesday, May 30, 2007

é nisso que eu creio também.

“Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos ferem e trespassam. Se o livro que estamos lendo não nos acorda com uma pancada na cabeça, por que o estamos lendo? Porque nos faz felizes, como você escreve? Bom Deus, seríamos felizes precisamente se não tivéssemos livros e a espécie de livros que nos torna felizes é a espécie de livros que escreveríamos se a isso fôssemos obrigados. Mas nós precisamos de livros que nos afetam como um desastre, que nos magoam profundamente, como a morte de alguém a quem amávamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para uma floresta longe de todos. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós. É nisso que eu creio.”
Franz Kafka, carta a Oscar Pollak, 1904

Wednesday, May 23, 2007

e ele me escreveu assim:



"estarei sempre aqui para transformar seus dias londrinos em lindos céus de Monet".


e eu quis que Monet estivesse vivo pra pintar a grandeza do que senti.

abre e fecha, aqui e acolá.

por um momento achei que minhas gavetas haviam se fechado.
bobagem pura e cristalina, uma vez abertas, pra sempre cheias.
acho que porque descobri outras maneiras de preenchê-las, ou outras formas de atirar palavras no vento. sei lá. percebi que posso abrir a boca e cuspir imagens, que consigo fechar os olhos e ver poesia, que gosto de sentir e colocar pra fora fotografias. sei como eu cheguei até isso não, mas percebo que é onde me perco, encontro e equilibro.
pra variar, a brincadeira da vez é o pique-esconde e a única brincante sou eu. me escondo do que, de quem, onde, como e por que. e sempre me encontro agaixada na canto esquerdo daquela fotografia, respirando baixo pra ninguém ouvir e com cara de quem espera o previsível. boba eu, que me escondo do que eu mesma procuro ver, e morro de gargalhar.
nem sei se falar é mais fácil com palavra, com gesto, com imagem, com pintura, com olho, com silêncio incômodo. nem sei direito o que é falar, no sentido mais difícil que tu consegue imaginar.
mas eu acho fácil sentir, sabe? mesmo que seja escuro, que traga medo. é mais fácil porque é teu, tá dentro das tuas gavetas e, parafraseando algo que era o máximo da falta de educação e prepotência infantil: "a gaveta é minha e eu abro ou fecho quando eu quiser!!!"
então eu decidi que quero abrir outra vez, porque tenho sentido tanto...
o que eu vou colocar lá dentro, todo mundo já sabe, só devaneios! (paciência! a metade de mim que não é água é devaneio!). agora... como, eu também já descobri da última vez que brinquei de pique-esconde, quando me encontrei sozinha, no meio do nada, com uma câmera fotográfica na mão, em silêncio. eu percebi que a gente pode sentir, falar e calar prum mundo inteiro de uma só vez, com um só aperto no disparador.
e eu tenho falado ou calado coisas mais ou menos assim: